Com um jogador a menos por 40 minutos, Flamengo mostra maturidade, alma e espírito de Libertadores ao segurar o Racing em Avellaneda
A fumaça dos sinalizadores ainda tomava o céu de Avellaneda quando o Flamengo começou a ditar o ritmo de uma semifinal de Libertadores em estado puro. Antes mesmo de o cronômetro marcar 15 minutos, o Rubro-Negro já havia criado três chances claras de gol e silenciado boa parte da festa ensurdecedora do estádio El Cilindro. Sereno diante da pressão, o time brasileiro impôs seu jogo e deu o primeiro passo rumo à sua quarta final continental em sete anos.
Mas, como manda o roteiro da Libertadores, a noite guardava doses generosas de drama. Depois de um primeiro tempo sólido, o Flamengo viu o cenário mudar completamente na etapa final, quando Gonzalo Plata foi expulso aos 10 minutos após acertar um soco em Rojo. Com um a menos e 40 minutos de pura resistência pela frente, o time de Filipe Luís se fechou como pôde, defendeu cada centímetro de campo e saiu de Avellaneda com o 0 a 0 que garantiu a vaga na decisão — e reforçou a imagem de um time que aprendeu a jogar o torneio “à la Libertadores”.

Controle e maturidade no primeiro tempo
O Flamengo entrou em campo com uma formação ajustada para enfrentar o ímpeto argentino. Léo Ortiz, recuperado de lesão, voltou à defesa, enquanto Plata substituiu Pedro e formou um ataque móvel ao lado de Luiz Araújo e Carrascal. A estratégia funcionou. O time teve mais posse de bola, neutralizou a marcação alta do Racing e criou chances com Arrascaeta, Varela e Luiz Araújo.
Pulgar e Jorginho controlavam o meio-campo com autoridade, enquanto a defesa, com Léo Pereira em noite inspirada, se impunha nas bolas aéreas — principal arma do adversário. Aos 11 minutos, Rossi fez grande defesa em cabeceio de Conechny, a primeira de uma série que sustentaria o Flamengo ao longo da noite.

Apesar das oportunidades, o Rubro-Negro novamente pecou na finalização, seu maior problema na temporada. A falta de precisão manteve o placar zerado e deixou o duelo aberto para a segunda etapa.
Expulsão e resistência heroica
O segundo tempo começou com o Racing pressionando e o Flamengo ainda administrando bem a vantagem. Até que, aos 10 minutos, Gonzalo Plata perdeu a cabeça e revidou uma provocação de Rojo com um soco. Expulso de forma justa, o atacante equatoriano deixou o time com um a menos e alterou completamente o panorama da partida.
Filipe Luís reagiu rapidamente. Colocou o zagueiro Danilo, recuou os laterais e armou uma linha de cinco defensores. O Flamengo se fechou como uma muralha diante da avalanche argentina. Foram quase 40 cruzamentos na área, neutralizados por uma defesa que mostrou disciplina e coragem.
Rossi voltou a brilhar ao defender uma bola à queima-roupa de Vietto, e Léo Pereira foi o gigante da retaguarda, vencendo praticamente todos os duelos pelo alto. Nas raras vezes em que o sistema falhava, o goleiro argentino aparecia como um verdadeiro “iceberg com braços”, frio e preciso nas decisões.

Um time que sabe sofrer
Em meio à pressão, o Flamengo demonstrou maturidade coletiva e espírito de Libertadores. Soube parar o jogo quando necessário, esfriar o ritmo e transformar o desespero do Racing em ansiedade improdutiva. O adversário teve posse, mas esbarrou na limitação técnica e na organização rubro-negra.
“Hoje foi uma vitória de um time com alma, competitivo e aguerrido, que sabe jogar a Libertadores. Os jogadores multicampeões são os mais ambiciosos, e o meu time está cheio”, destacou Filipe Luís.

O Flamengo dos grandes momentos
A classificação não foi apenas mais uma exibição de resistência; foi a confirmação de que este Flamengo é um dos maiores protagonistas da história recente da Libertadores. Desde 2019, o clube chega à sua quarta final e pode se tornar o primeiro brasileiro tetracampeão do torneio.
O feito também marca a primeira decisão de Filipe Luís como técnico. Bicampeão como jogador, o ex-lateral agora tenta escrever seu próprio capítulo na prancheta.
“Estamos extremamente felizes por alcançar mais uma final. O Flamengo tem cinco finais em sua história, e há jogadores desse elenco que vão disputar a quarta. Eu tenho três como jogador e uma como treinador. Estou muito orgulhoso”, afirmou o comandante.

Entre a técnica e o coração
Em Avellaneda, o Flamengo mostrou sua versão mais completa de 2025. Jogou quando pôde jogar, sofreu quando precisou sofrer e sobreviveu a uma tempestade que teria engolido times menos preparados. Em uma Libertadores marcada por altos e baixos, o Rubro-Negro respondeu à altura do peso da camisa e do momento histórico.
Agora, o clube volta suas atenções para Lima, palco da decisão, onde enfrentará o vencedor de Palmeiras x LDU. Seja quem for o rival, o Flamengo chega pronto — técnica, emocional e espiritualmente — para tentar erguer a quarta taça da América.

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