Bap, presidente do Flamengo, durante reunião do Conselho Deliberativo — Foto: Mariana Sá/CRF

Bap desafia clubes da Libra: “Vão ter que conviver com o Flamengo até 2029”

Em meio à disputa bilionária por direitos de TV, presidente do Flamengo garante permanência do clube na Libra e cobra revisão na divisão das receitas.

O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, colocou fim às especulações sobre uma possível saída do clube da Libra, a Liga do Futebol Brasileiro. Em reunião do Conselho Deliberativo realizada na noite desta terça-feira, na Gávea, o dirigente reafirmou que o Rubro-Negro não deixará o bloco “de jeito nenhum” e que seguirá defendendo uma nova distribuição das receitas de televisão até o fim do contrato, em 2029.

“Zero chance (de pedir a desfiliação da Libra). Vamos conviver com esse contrato até 31 de dezembro de 2029 e eles vão conviver com o Flamengo também até essa data”, afirmou Bap, em tom categórico.

A declaração ocorreu durante a apresentação feita pelo representante rubro-negro na Libra, Marcelo Campos Pinto, que detalhou aos conselheiros os pontos de divergência entre o Flamengo e os demais clubes. Segundo o clube carioca, o atual formato de divisão das cotas de TV gera prejuízo direto ao Flamengo, que seria o único a perder dinheiro com o acordo assinado em 2024, ainda sob a gestão de Rodolfo Landim.

O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, não quer que Flamengo deixe a Libra. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo
O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, não quer que Flamengo deixe a Libra. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Entenda o impasse com a Libra

A Libra é uma entidade que reúne clubes do Brasileirão com o objetivo de negociar coletivamente os direitos de transmissão. Entre os integrantes estão Palmeiras, São Paulo, Santos, Atlético-MG, Bahia, Grêmio, Red Bull Bragantino, Paysandu, Remo e o próprio Flamengo. O contrato firmado com a Globo tem validade até 2029 e valor anual de R$ 1,17 bilhão, além das receitas do pay-per-view.

A divisão das receitas segue três critérios:

  • 40% de forma igualitária entre os clubes;
  • 30% por performance, de acordo com a posição final no Campeonato Brasileiro;
  • 30% por audiência, com base na exibição das partidas em diferentes plataformas.

É justamente essa última fatia, referente à audiência, que está no centro da disputa. O Flamengo contesta a metodologia usada pela Libra, argumentando que o contrato não define com clareza como será calculada a contribuição de cada plataforma — TV aberta, TV fechada e streaming — para o montante total. Segundo o clube, a fórmula é “incompleta” e depende de aprovação unânime dos integrantes, o que a tornaria, na prática, incalculável.

Luis Eduardo Baptista, o Bap, presidente do Flamengo (Foto: Rafael Borgerth/FlaVoz)
Luis Eduardo Baptista, o Bap, presidente do Flamengo – Foto: Rafael Borgerth/FlaVoz

Rompimento judicial e críticas internas

Sem acordo, o Flamengo decidiu recorrer à Justiça. O clube obteve no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro uma liminar que bloqueia R$ 77 milhões que seriam repassados pela Globo aos clubes da Libra. A decisão gerou forte reação dentro do bloco, que acusa o Rubro-Negro de “disseminar desinformação” e de não buscar o diálogo.

Em nota oficial, a Libra afirmou que o estatuto da entidade “não é omisso quanto aos critérios de distribuição de receitas” e criticou a postura do Flamengo, enquanto o clube rebateu dizendo que busca apenas transparência e ajustes no modelo.

A polêmica ganhou contornos políticos. Durante o encontro com os conselheiros, Bap respondeu indiretamente à presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que havia comparado a gestão rubro-negra a “terraplanistas” — ou, como ironizou, “terraflamistas”.

“Claro que não (o Flamengo não vai jogar sozinho). Isso são narrativas tolas. Até porque se o Flamengo jogasse sozinho, o dinheiro que sobraria para os outros seria muito pouco. O Flamengo jogando sozinho seria um desgosto profundo para as outras 19 torcidas” rebateu Bap em tom provocativo.

Bap reforça papel do Flamengo na Libra

Ao mesmo tempo em que rechaça a ideia de rompimento, Bap adota postura firme nas negociações. O presidente entende que deixar a Libra significaria abrir espaço para unanimidade entre os demais clubes, o que enfraqueceria o poder de barganha do Flamengo. Assim, a estratégia rubro-negra é permanecer no bloco para pressionar por mudanças internas até o fim do atual contrato.

“Nós tentamos nesses nove meses um acordo com a Libra e não foi possível até agora. Espero que os outros clubes tenham bom senso, reflitam e vejam a relevância do Flamengo. O Flamengo quer olhar para frente. Depende dos outros clubes”, declarou o dirigente.

A fala reforça o tom político de uma disputa que extrapola as questões financeiras. Desde que assumiu a presidência no início de 2025, Bap tem colocado a revisão dos critérios de divisão das cotas de TV como uma das prioridades de sua gestão, com o argumento de que o Flamengo, por seu alcance e audiência, deveria receber proporcionalmente mais.

Bap em coletiva no Flamengo — Foto: Letícia Marques / ge
Bap em coletiva no Flamengo — Foto: Letícia Marques / ge

Futuro indefinido e pressão crescente

Mesmo com a liminar em vigor, o impasse está longe do fim. A Libra recorreu da decisão e tenta restabelecer o pagamento da parcela bloqueada. Internamente, alguns clubes chegaram a discutir a possibilidade de expulsar o Flamengo do grupo, embora essa medida seja considerada improvável devido às implicações jurídicas.

Enquanto isso, o Flamengo se mantém firme em sua estratégia de confronto, sustentando que a reformulação da divisão das receitas é essencial para garantir justiça financeira no futebol brasileiro. A diretoria rubro-negra considera que o modelo atual desestimula o crescimento de clubes com maior apelo de público e impacto comercial, o que, segundo Bap, prejudica o próprio produto do campeonato.

A Libra, por sua vez, tenta preservar a união entre os clubes e garantir a estabilidade do acordo com a Globo. O desafio será encontrar um ponto de equilíbrio entre a força política e financeira do Flamengo e a necessidade de consenso entre os demais integrantes.

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